Aula 3.2

Saúde da pessoa idosa

O conceito de saúde apresenta, para a população idosa, características peculiares. Se quisermos que o envelhecimento seja uma experiência positiva, uma vida mais longa deve ser acompanhada de oportunidades contínuas de saúde, participação e segurança. A Organização Mundial da Saúde adotou o termo “envelhecimento ativo” para expressar o processo de conquista dessa visão.

Envelhecimento ativo é o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ?cam mais velhas. (OMS, 2005). A verdade é que as pessoas de mais idade, mesmo aquelas que apresentam alguma doença ou vivem com alguma necessidade especial, podem continuar a contribuir ativamente para seus familiares, companheiros, comunidades e países.

Uma vez que o envelhecimento ativo faz parte do conceito amplo de saúde, em um projeto de envelhecimento ativo as políticas e programas que promovem saúde mental e relações sociais são tão importantes quanto aquelas que melhoram as condições físicas de saúde.

A idéia de envelhecimento ativo está intimamente relacionada com a manutenção da funcionalidade e prevenção de incapacidade dos idosos. Esse dois conceitos, funcionalidade e incapacidade, são especialmente importantes quando discute-se saúde da pessoa idosa.

Embora não exista uma única definição, de maneira geral, podemos dizer que a funcionalidade é um termo que engloba as funções do corpo, atividades e participação do indivíduo na vida familiar e na sociedade. Seguindo está definição a Incapacidade Funcional é um termo que inclui deficiências, limitação de atividades ou restrição na participação. (CIF, 2004)

A funcionalidade e a incapacidade de uma pessoa são concebidas como uma interação dinâmica entre os estados de saúde e os fatores contextuais. Para classificar a funcionalidade, foi criada pela Organização Mundial da Saúde a Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF), que foi adotada no Brasil. A CIF permite descrever situações relacionadas com a funcionalidade do ser humano e as suas restrições e serve como enquadramento para organizar esta informação. Ela estrutura a informação de maneira útil, integrada e facilmente acessível.

Componentes da Funcionalidade e da Incapacidade

  • O componente “Corpo” inclui duas classificações, uma para as funções dos sistemas orgânicos e outra para as estruturas do corpo. Nas duas classificações os capítulos estão organizados de acordo com os sistemas orgânicos.
  • O componente “Atividades e Participação” cobre a faixa completa de domínios que indicam os aspectos da funcionalidade, tanto na perspectiva individual como social.

Componentes dos Fatores Contextuais

  • O primeiro componente dos Fatores Contextuais é uma lista de Fatores Ambientais. Estes têm um impacto sobre todos os componentes da funcionalidade e da incapacidade e estão organizados de forma sequencial, do ambiente mais imediato do indivíduo até ao ambiente geral.
  • Os Fatores Pessoais também são um componente dos Fatores Contextuais, mas eles não estão classificados na CIF devido à grande variação social e cultural associada aos mesmos.

Conforme as pessoas envelhecem, o significado de capacidade funcional se altera. De fato, não podemos esperar que o corpo dos idosos mantivesse o mesmo nível de funcionalidade que o de pessoas no início de sua vida adulta. A capacidade funcional aumenta durante a infância e atinge seu máximo nos primeiros anos da vida adulta, entrando em declínio em seguida. A velocidade do declínio, no entanto, é fortemente determinada por fatores relacionados ao estilo de vida na vida adulta – como, por exemplo, tabagismo, consumo de álcool, níveis de atividade física e dieta alimentar – assim como por fatores externos e ambientais. O declínio pode ser tão acentuado que resulte em uma deficiência prematura. Contudo, a aceleração do declínio pode sofrer influencias e ser reversível em qualquer idade através de medidas individuais e públicas.

Figura 1


Fonte: Kalache e Kickbusch, 1997

A avaliação da funcionalidade é importante componente da atenção à saúde da pessoa idosa uma vez que identifica possíveis fragilidades e orienta o tipo de intervenção necessária. O objetivo da avaliação funcional é avaliar como os idosos estão realizando diversas atividades consideradas cotidianas e normais da vida e identificar o nível de capacidade funcional para as diversas atividades (incapaz, maior ou menos dificuldades, capaz etc.)

Três dimensões da capacidade funcional são tradicionalmente utilizadas para avaliação funcional, são elas: Atividades da Vida Diárias (AVD), Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVD) e a mobilidade física.

Atividade da Vida Diárias (AVD) são considera as atividades básicas relacionadas ao autocuidado e que quando há limitação em realizar requem a presença de um cuidador para auxiliar o idosos na realização das mesmas. São elas:

  • Alimentar-se
  • Banhar-se
  • Vestir-se
  • Mobilizar-se
  • Deambular-se
  • Ir ao Banheiro
  • Manter controle sobre suas necessidades fisiológicas

Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVD) são as atividades mais complexas que indicam a independência do individuo dentro da comunidade. São elas:

  • Utilizar meios de transporte
  • Manipular medicamentos
  • Realizar compras
  • Realizar tarefas domésticas leves e pesadas
  • Utilizar telefone
  • Preparar refeições
  • Cuidar das próprias finanças

Mobilidade Física está relacionada a capacidade de locomoção a medias distâncias, a mobilidade é um indicador mediador entre AVD e AIVD pois está relacionado a execução e atividades que exigem movimento, força e resistência. São elas:

  • Transferência de cama para cadeira
  • Levantar-se da cama ou cadeira
  • Subir e descer escadas
  • Caminhar cerca de 100 metros
  • Caminhas cerca de 1 km

Referência: Lawton e Brody, 1969; Katz et al, 1970; Guralnik et al, 1993; Rosa at al, 2003; Alves et al, 2008

Diferentes instrumentos avaliam essas dimensões da capacidade funcional, podemos destacar o The Barthel Index e o Índice de independência nas atividades (Index of ADL) ambos voltados para avaliação das AVDs de ampla utilização internacional.(Mahoney et al, 1958, Katz et al, 1959) A escala de Lawton e o Health Assessment Questionnaire (HAQ) foram desenvolvidos para avaliar as AIVDs com tradução para o português(Fries et al, 1980). O Olders Americans Research and Services (OARS), validado para o Brasil, busca realizar uma avaliação global de capacidade funcional a partir de uma visão multidimensional que inclui fatores socioeconômicos, sociais, físicos, metais e de cuidado familiar(Blay et al, 1988).

Indicadores sobre a capacidade funcional disponíveis para população idosa.

Alguns inquéritos e pesquisas nacionais utilizam perguntas para avaliar a capacidade funcional da população, no entanto poucos tem representatividade para todos os municípios brasileiros e todas as unidades da federação. A seguir destacam-se as pesquisas que produzem  informações sobre a capacidade funcional de idosos residentes no estado do Rio de Janeiro.

O primeiro deles é o Censo demográfico que coleta informação sobe funções físicas, como enxergar e ouvir, funções motoras e funções mentais. O objetivo principal é identificar a população com algum tipo de deficiência. Não é voltada especificamente para os idosos.

A PNAD, diferente do Censo, tem foco nas AVDS, AIVDS e mobilidade física da população idsosa. Especificamente pergunta sobre dificuldade para alimentar-se, tomar banho ou ir ao banheiro, para realizar atividades domésticas e para andar mais de 1 quilometro

Destacamos a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) que traz no sua primeira edições, cujos dados foram coletados no ano 2013, um bloco especifica sobre a capacidades funcional dos idosos onde cada atividade da vida diária e instrumental são perguntadas separadamente, diferente da PNAD que são juntas. Os dados da PNS estarão disponíveis em breve.

A seguir destacamos um exemplo de indicador da capacidade funcional dos idosos do Rio de janeiro

Exemplo: proporção de idosos com incapacidade funcional para atividades de vida diária. Este indicador é uma medida geral que indica limitação ou falta de autonomia para exercer atividades de vida diária, como alimentar-se, tomar banho ou ir ao banheiro. Se a proporção de idosos com incapacidades for muito alta, isto indica que a população com 60 anos ou mais em determinado território merece atenção especial para a promoção de medidas que estimulem um envelhecimento ativo e saudável.

As fontes para o cálculo deste indicador são: PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) e estimativa populacional baseada no Censo Demográfico.

Gráfico 2

No Rio de Janeiro cerca de 12% da população idosos apresenta algum dificuldades para realizar atividades básicas da vida diária, observamos que esse valor é próximo do encontrado para toda a população idosa brasileira.

Referência Bibliográfica

Alves LC, Leite IC, Machado CJ. Conceituando e mensurando a incapacidade funcional da população idosa: uma revisão de literatura. Ciência & Saúde Coletiva, 13(4): 1199-1207.2008.

Blay SL, Ramos LR, Mari JdeJ. Validity of a Brazilian version of the older americans
resources and services (OARS) mental health screening questionnaire. J Am Geriatric Soc,36(8): 687-692. 1988.

Fries JF, Spitz P, Kraines RG, Holman HR. Measurement of patient outcome inarthritis.
Arthritis Rheum, 23(2): 137-145. 1980.

Guralnik JM, LaCroix AZ, Abbott RD, Berkman LF, Satterfield S, Evans DA, Wallace RB. Maintaining Mobility in late life. I. Demographic characteristic and chronic conditions. Am J Epidemiol, 137(8): 845-57. 1993.

Katz S, Downs TD, Cares HR. Progress in the development of the Index of ADL.
Gerontologist. 10:20-30. 1970.

Lawton MP, Brody EM. Assessment of older people: self-maintaining and instrumental
activities of daily living. Gerontologist, 9(3): 179-186. 1969.

Rosa TEC, Benício MHD’A, Latorre MRD de, Ramos LR. Fatores determinantes da
capacidade funcional entre idosos. Rev. Saúde Pública, 37(1): 40-48. 2003.

Mahoney FI, Wood OH, Barthel DW. Rehabilitation of chronically ill patients: the influence of complications on the final goal. Southern Medical Journal. 51(5): 605-609. 1958.