Aula 5

Indicadores para Gestão em Saúde do Idoso

Os indicadores são medidas-síntese que contêm informações relevantes sobre determinados atributos e dimensões de uma atividade e podem ser usados como guia para monitorar e avaliar eventos (Ripsa, 2008). A construção de um indicador é um processo que pode variar desde a simples contagem direta de casos de determinada doença, até o cálculo de proporções, razões, taxas ou índices mais sofisticados, como por exemplo, a Esperança de Vida ao Nascer.

Para garantir a comparabilidade de territórios, grupos populacionais ou períodos de tempo, devemos padronizar de todas as fases de trabalho: coleta, armazenamento de dados, manipulação e análise, e deve ficar claro sua localização espacial, o intervalo de tempo a que se refere e sua abrangência.

A precisão de um indicador depende dos componentes utilizados na sua formulação e da qualidade da fonte de informação (Jannuzzi, 2009).

  • Validade: avalia o grau de proximidade entre o conceito e a medida ou é a capacidade do indicador de medir o que se quer. Ex: a proporção de famílias com renda abaixo de um salário deve ser um indicador mais adequado para retratar o nível de pobreza de uma população que a renda média per capita.
  • Confiabilidade: O indicador é confiável quando se tem boa qualidade dos dados usados em seu cálculo. Para avaliar a qualidade dos dados, podemos verificar:
    • Cobertura: o indicador possui boa cobertura quando é representativo da realidade que será analisada.
    • Incompletitude: vem da proporção de informação ignorada, ou seja, os campos em branco e os códigos atribuídos à informação ignorada.
  • Sensibilidade: é a capacidade do indicador refletir mudanças quando as condições que afetam a dimensão de interesse se alteram. Ex: para avaliar o impacto das campanhas de vacinação de idosos contra gripe, a taxa de internação de idosos por gripe certamente é um indicador mais sensível do que a taxa de mortalidade de idosos por esta causa.
  • Especificidade: é a capacidade do indicador refletir alterações ligadas às mudanças na dimensão de interesse. Diz respeito à associação entre as estatísticas utilizadas na sua construção. Se essa associação é pequena, o indicador não será específico para mostrar variações. Devemos prestar atenção na população que foi usada para cálculo.
  • Relevância: a produção e uso do indicador são resultados da agenda de discussão política e social. Segundo definição da RIPSA, indicadores relevantes objetivam “responder a prioridades de saúde”.
  • Comunicabilidade: relativo à sua facilidade de compreensão do indicador, tanto de seu método de cálculo, quanto de sua aplicação.
  • Oportunidade: relacionado à questão do tempo entre a entrega dos resultados e o período de referência estabelecido para a disponibilidade dos dados ao usuário.
  • Desagregabilidade: quando é possível construir o indicador se referindo a grupos e lugares diferentes.

Espera-se que os indicadores possam ser analisados com facilidade e que sejam compreensíveis pelos usuários da informação, contudo, na prática, os indicadores disponíveis não são tão fáceis assim de interpretar, e muito menos passíveis de reprodução, já que nem sempre há transparência em sua metodologia e construção. Enfim, nem sempre um indicador que reúna todas essas propriedades será passível de ser construído na escala que se necessita (Jannuzzi, 2005). Como exemplo disso temos os indicadores que tem como fonte de informação o Censo Demográfico, pois apesar de ser considerada uma fonte de dados confiável e válida, não possibilita o cálculo de indicadores oportunos, já que a periodicidade de realização deste inquérito é de 10 em 10 anos.

Um conjunto de indicadores, construídos com regularidade e alocados em um sistema dinâmico, tem o propósito de produzir evidência sobre a situação atual de uma população e suas tendências, e no caso dos indicadores de saúde, são instrumentos valiosos para a gestão e avaliação das condições de saúde, em todos os níveis, buscando identificar grupos com maiores necessidades, maior suscetibilidade a doenças ou para identificar áreas críticas (Carvalho et al, 1998; Weigelt, 2012).

Os indicadores de saúde podem ser agrupados de diferentes formas, mas para que sejam ferramentas úteis para a verificação da condição de saúde da população ou avaliação do desempenho do sistema de saúde, devem traduzir o contexto político, social e econômico daquele território.

A alocação dos indicadores que compõem o Sistema de Indicadores de Saúde e Acompanhamento de Políticas do Idoso (SISAP-Idoso) em dimensões é uma das maneiras que temos para avaliar aspectos diferentes relacionados à saúde. Esta divisão em dimensões segue a matriz conceitual de indicadores utilizados para a avaliação do desempenho dos sistemas de saúde, que pode ser melhor entendida no Capítulo “Como  entendemos a saúde dos idosos”.

A Sala de Situação de Saúde é outro exemplo de como trabalhar com indicadores em conjunto para apoiar processos decisórios. Serve tanto aos gestores de todos os níveis, possibilitando o monitoramento e avaliação de políticas e programas de saúde, como para subsidiar a decisão que a equipe da sala realiza e que culmina nas Unidades Básicas de Saúde, onde é gerado o dado primário. As decisões nesses níveis são determinantes para o processo de gestão do dado e da informação em saúde, e permite um processo dinâmico de planejamento, intervenção e avaliação (OPAS, 2010). A Sala de Situação é uma ferramenta que favorece o uso da informação em saúde facilitando sua análise e vinculando-a a gestão de governo, sendo de fácil acesso já que seu conteúdo é disponível de maneira livre na Internet (www.saude.gov.br/saladesituacao).

Além da evolução técnica na organização de bases de dados e dos recursos computacionais através da internet - que disponibiliza informações rápidas, atuais e trocas de experiências e serviços -, a facilidade no acesso às informações de saúde contribui para o planejamento de políticas e prioridades ajustadas às reais necessidades da população.  Entretanto, a elaboração e o cálculo de indicadores de saúde só são possíveis na medida em que se dispõe de fontes de dados disponíveis.

No Brasil, as informações de saúde são disponibilizadas, de forma livre, no site do Departamento de Informática do SUS – Datasus (www.datasus.gov.br). Nele estão as informações dos principais Sistemas de Informação em Saúde do Ministério da Saúde, como por exemplo, as informações de óbitos do Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM. Poucos países latino-americanos contam com sistemas de informação em saúde desagregados a nível local e com dados disponíveis na Internet, sendo o Brasil uma das poucas exceções.

A Organização Mundial da Saúde – OMS (www.who.int/es/) e a Organização Pan-Americana de Saúde - OPAS (www.opas.org.br) são as instituições internacionais responsáveis pela geração e disponibilidade de informação de saúde dos países das Américas buscando melhorar suas condições de saúde. O acesso a informações de saúde do outros países possibilita comparações no nível nacional.

Tipos de indicadores

Os indicadores são medidas relativas e estão sempre referidos a uma população específica e a um intervalo de tempo determinado; correspondem a frações que expressam a relação entre dois eventos. Estas frações costumam ser chamadas, segundo diferentes autores ou circunstâncias, de taxas, proporções, razões ou coeficientes, podendo ser expressos em valores absolutos ou relativos.

Valores absolutos

Os números absolutos, também chamados valores ou números brutos, representam o que se obtém ao contar, diretamente, uma série de eventos da mesma natureza. Ainda que esses números absolutos sirvam para algum tipo de avaliação, não medem a força ou risco de ocorrência de determinado evento.

Estes valores podem ser considerados indicadores, à medida que se comparam valores iguais, maiores ou menores a ele, tendo seu significado limitado ao tempo e à população considerada.

Pelo fato dos valores absolutos não permitirem a comparação de medidas de mortalidade ou de morbidade de diferentes populações (ou da mesma população em diferentes momentos), os números absolutos dos indicadores precisam ser transformados em valores relativos.

Exemplo: No estado do Rio de Janeiro 28397 idosos morreram por doenças do aparelho circulatório.

 

Valores relativos

Número relativo é o resultado de comparações que se estabelecem entre números absolutos e têm por finalidade realçar ou facilitar as comparações entre quantidades. Os indicadores de saúde são medidas relativas de mortalidade e de morbidade, que estão sempre referidos a uma população específica e a um intervalo de tempo determinado; correspondem a frações, que se traduzem, em geral, por meio de razões, proporções, índices, coeficientes e taxas.Aula5_img1.png

  • Razão

Uma razão é a relação entre dois números, onde o numerador e o denominador são elementos de mesma natureza e mesma dimensão, mas são de grupos excludentes, ou seja, o numerador não está incluído no denominador. A razão mede a relação entre eventos.

 

  • Proporção

A Proporção é a relação entre a freqüência absoluta de determinado evento e o total de eventos da mesma natureza ocorridos na população e no período considerado. Os casos incluídos no numerador são também subconjuntos do denominador, mas não expressam risco. São usualmente apresentadas na forma de percentagens (x100).

  • Índice

Os Índices são medidas freqüentemente usadas para comparar grupos de dados relacionados entre si, sendo possível avaliar as variações ocorridas ao longo do tempo e as diferenças entre os lugares. Eles não se constituem em medida alguma, mas são indicadores de comportamento ou de tendência de uma ou mais variáveis componentes de um fenômeno.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a tabela de IMC para idosos é diferente da tabela de IMC dos adultos. Após os 65 anos as pessoas costumam perder massa óssea, muscular e o corpo passa a acumular mais gordura. Isso faz com que o IMC vá aumentando aos poucos. Também há diferença nos limites quando se considera o sexo dos idosos.

TABELA  -  IMC para idosos (65 anos ou mais)


Fonte: BUSCAR

  • Coeficientes ou Taxas

Os Coeficientes ou Taxas são razões entre o número de ocorrências de um evento e o número total (número de ocorrências e número de não ocorrências). Representam o “risco” de determinado evento ocorrer na população (que pode ser a população do país, estado, município, população de nascidos vivos, de mulheres, etc.). No numerador ficam os casos (doença, incapacidade, óbito, indivíduos com determinada característica etc. – é um subconjunto do denominador) e no denominador, a população sob risco (de adoecer, de se tornar incapacitado, de morrer etc).

Como costumam ser números pequenos (o denominador geralmente é muito maior do que o numerador), normalmente multiplicamos a fração por uma potência de 10 (10n), o que significa multiplicar o número 10 por ele mesmo várias vezes, a fim de facilitar a interpretação e entendimento do indicador.

 

Indicadores de saúde

Os indicadores de saúde revelam a situação de saúde (ou um aspecto dela) da população ou de um indivíduo; são formulados a partir de dados referenciados no tempo e espaço e pela sua forma de organização e apresentação, facilitam a análise e o olhar sobre a realidade, através de sua simples leitura ou através do acompanhamento dos dados no tempo.

O poder de dispor de informação apoiada em dados válidos e confiáveis é condição essencial para a análise da situação de saúde. Os indicadores de saúde são parâmetros internacionalmente utilizados com o objetivo de avaliar as características da população, para fornecer subsídios para o planejamento de ações e para o acompanhamento temporal de diferentes grupos populacionais de um determinado local, num dado período de tempo. São medidas diretas que devem refletir o estado de saúde da população de um território.

Os indicadores de saúde expressam numericamente o estado da saúde de uma população, em um determinado momento. A comparação de indicadores de saúde de diferentes populações permite distinguir diferenças nos padrões de morbidade e de mortalidade, que refletem diferenças econômicas e sociais. Para conhecer os problemas de saúde em um território, precisamos ter informações sobre as pessoas atingidas, assim com outras informações que nos aproximem dos processos que os sustentam.

Quando construídos segundo critérios geográficos, ou geopolíticos, os indicadores de saúde tornam evidentes, de modo formal e claro, as desigualdades entre países, cidades ou regiões. Se as populações forem definidas em função do espaço social que os seus elementos ocupam, os indicadores permitirão evidenciar as desigualdades sociais entre grupos do mesmo espaço geográfico (CNDSS, 2008).

Além disso, podem ser classificados de várias maneiras, neste livro utilizaremos a divisão temática que segue a matriz conceitual de indicadores utilizados para a avaliação do desempenho dos sistemas de saúde, por ser de grande importância para o desenvolvimento de políticas e orientação de estratégias e planejamento de programas na área de saúde.

 

Indicadores determinantes da saúde

As informações sobre os determinantes da saúde possibilitam explicar a tendência da saúde de um grupo populacional específico e entender as diferenças das condições de saúde entre os diferentes grupos sociais que compõem uma determinada sociedade. São mensurados fatores ambientais, fatores socioeconômicos, características da comunidade e das famílias e fatores individuais.

  • Contextuais e ambientais

Condições de moradia e do domicílio são estreitamente ligadas com o nível socioeconômico da população. Isso também se aplica em relação à cobertura e qualidade do saneamento básico (abastecimento de água, coleta de esgotos, de lixo e destinação das águas pluviais). Os indicadores ambientais são aqueles que mostram a relação entre o meio ambiente e as condições de saúde de uma determinada população.

Exemplo: Utilizamos o indicador de proporção com água encanada para avaliar a condição de moradia da população.

Proporção de pessoas que vivem em domicílios com água encanada

Definição: Percentual de idosos de 60 anos ou mais que vivem em domicílios urbanos com água canalizada proveniente de rede geral.

Interpretação: Mede a cobertura populacional de serviços de água encanada e expressa as condições socioeconômicas regionais e a priorização de políticas governamentais direcionadas ao desenvolvimento social.

Método: (Número de idosos que vivem em domicílios com abastecimento de água / População total de idosos) x 100

Limitações: Os dados são fornecidos espontaneamente pelo informante, que pode ser seletivo nas suas declarações.

Fontes: Censo Demográfico

Anos: 2000 e 2010

Tabela 6


Fonte: SISAP

Na tabela estão representadas a proporção e domicílios com água encanada nos anos 2000 e 2010 para alguns municípios do Rio de Janeiro. Observa-se que dentro do estado do Rio de Janeiro os municípios apresentam diferenças quanto o abastecimento de águas nos domicílios, destaca-se Saquarema com a cerca de 46% e Volta Redonda com 98% dos domicílios com abastecimento de água encanada.

  • Socioeconômicos e de Fragilidade social

São indicadores relacionados aos aspectos sociais e econômicos da população, considerados significantes para a formulação das estratégias municipais. A fragilidade social pode ser medida por nível de renda insuficiente, baixo nível de escolaridade e ausência de apoio social.

Exemplo: Uma forma de mostrar a ausência de apoio social aos idosos é medindo a quantidade de idosos que moram sozinhos, e essa é uma informação que pode ser encontrada analisando os dados dos Censos Demográficos.

Proporção de idosos que moram sozinhos

Definição: Percentual de idosos de 60 anos ou mais que moram sozinhos.
Interpretação: Estima o percentual de idosos do sexo feminino que moram sozinhos.

Método: (Número de idosos do sexo feminino morando sozinho / População idosa) x 100

Fontes: Censo Demográfico

Anos: 2000 e 2010

Gráfico 4

O município do Rio de Janeiro apresenta maior proporção de idosos morando sozinho quando comparado do Estado, a Região Sudeste e ao Brasil.

  • Demográficos

Além da mortalidade, as grandes variáveis demográficas são a natalidade, a fecundidade e as migrações. Os indicadores mais usados são a esperança de vida ao nascer, fecundidade, natalidade, a estrutura etária e a distribuição por sexo da população. As grandes variáveis demográficas são a natalidade, a fecundidade, as migrações e a mortalidade. A simples divisão da população nas faixas etárias permite estimar demandas: em países com predomínio da população jovem, haverá maior procura por serviços de saúde materno-infantil, pré-natal e unidades de ensino fundamental; em países em que a população encontra-se envelhecida, haverá maior necessidade de serviços de atenção cardiovascular e medicamentos de uso contínuo, por exemplo.

Exemplo: Para exemplificar a interpretação de um indicador demográfico, utilizaremos o índice de envelhecimento populacional, observando sua evolução no tempo e sua distribuição segundo sexo.

Índice de envelhecimento da população

Definição: Número de idosos de 60 anos ou mais, para cada 100 pessoas menores de 15 anos de idade, na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado.

Interpretação:    Razão entre os componentes etários extremos da população, representados por idosos e jovens. Valores elevados desse índice indicam que a transição demográfica encontra-se em estágio avançado.

Método: (População de idosos de 60 anos ou mais / População com menos de 15 anos) x 100

Limitações:

  1. Eventuais falhas de cobertura na coleta direta de dados demográficos.
  2. Imprecisões inerentes à metodologia utilizada na elaboração de estimativas e projeções demográficas para períodos intercensitários.
  3. Imprecisões na declaração de idade por parte dos entrevistados nos levantamentos estatísticos.
  4. Projeções demográficas perdem precisão à medida que se distanciam do ano de partida utilizado no cálculo.
  5. Estimativas para um determinado ano estão sujeitas a correções decorrentes de novas informações demográficas.

Fontes: Censo Demográfico 2000 e 2010

Anos: 2000 e 2010

Tabela  7
Índice de envelhecimento da população segundo sexo.
Rio de Janeiro, 2000 e 2010


Fonte: Censo Demográfico

Podemos observar o crescimento da população idosa com o aumento significativo deste indicador no período analisado em ambos os sexos e no total da população. Destaca-se que a população feminina está mais envelhecida que a masculina no estado.

  • Comportamentais

Os indicadores comportamentais medem as atitudes, práticas, comportamentos bem como fatores biológicos individuais que podem influenciar a ocorrência de doenças e agravos à saúde.

Exemplo: Como exemplo de indicador comportamental, analisaremos a série temporal do indicador proporção de idosos com excesso de peso residentes no Rio de Janeiro no período 2008 a 2010.

Proporção de idosos com excesso de peso

Definição: Percentual de idosos de 65 anos ou mais com excesso de peso.

Interpretação: Estima o percentual de idosos com excesso de peso.

Foi considerado com excesso de peso o indivíduo com Índice de Massa Corporal (IMC) ? 25 kg/m2 (WHO,2002), calculado a partir do peso em quilos dividido pelo quadrado da altura, ambos auto-referidos, conforme as questões: "O (a) senhor (a) sabe seu peso (mesmo que seja valor aproximado)?", "O (a) senhor (a) sabe sua altura?"

Método: (Número de idosos com excesso de peso / Número de idosos entrevistados) x 100

Fontes: VIGITEL

Tabela 8
Proporção de idosos de 65 anos ou mais com excesso
de peso (auto-referido) segundo sexo
Rio de Janeiro, 2008-2010.


Fonte: Vigitel

Entre o ano 2008 e 2010 ouve aumento de idosos com excesso de peso, chegando a 555 da população idosos em 2010. Observa-se ainda que as  mulheres apresentam maior proporção de excesso de pesos que os homens em todos os anos.

 

Indicadores de condições de saúde

A mensuração do estado de saúde de uma população se faz, principalmente, através da observação de eventos que expressam a “não-saúde”: morte (mortalidade) e doença (morbidade). Assim, a quantidade de pessoas que morrem e a quantidade de pessoas que adoecem, em uma determinada população, durante um determinado período, são usadas como medida da saúde daquela população, naquele período.

  • Bem-estar

Um índice de bem-estar, ou de qualidade de vida, é por excelência um indicador que busca agregar diferentes dimensões da realidade para que se perceba, de forma aproximada, as condições de vida de determinado grupo ou de toda a sociedade (Filho & Gomes, 2010). Não há uma teoria formal para a escolha das variáveis que devem compô-lo, entretanto, condições de educação, saúde e de domicílio, dentre outras, podem ser consideradas como indicativas de qualidade de vida alcançada por uma sociedade, estando positivamente correlacionadas com o nível de infra-estrutura disponível (hospitais, escolas, instituições de cultura, saneamento básico, transportes, comunicações), com o equilíbrio da dieta alimentar e com a existência de um sistema de proteção social eqüitativo e com uma boa cobertura.

Proporção de idosos que referem seu estado de saúde como muito bom ou bom

Definição: Percentual de idosos de 60 anos ou mais que referem seu estado de saúde como muito bom ou bom.

Interpretação: Indica uma auto classificação global do estado de saúde para a qual a pessoa considera, além de possíveis doenças de que é portadora, o impacto das patologias ou da ausência delas no seu bem-estar geral (físico, mental e social). As análises dos estudos mostram que este indicador está altamente correlacionado com medidas objetivas de morbidade e mortalidade.

Método: (Número de idosos que referem seu estado de saúde como muito bom ou bom / População idosa) x 100

Fontes: PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios)

Exemplo: A auto-avaliação da saúde é um dos indicadores mais usados em pesquisas com idosos, porque prediz a mortalidade e o declínio funcional, refletindo uma percepção do indivíduo que inclui as dimensões biológica, psicossocial e social.

Tabela
Proporção de idosos que referem seu estado de saúde como bom ou muito bom
Grandes Regiões, 1998, 2003 e 2008


Fonte: PNAD

Notamos através dos dados contidos na tabela o crescimento da proporção de idosos que referem seu estado de saúde como bom ou muito bom, com o passar dos anos em todas as regiões. Abaixo, vemos um gráfico que mostra a auto-avaliação de saúde dos idosos do Brasil em 2008, que mostra que apesar da melhora observada por região, a maioria (41%) dos idosos ainda considera sua saúde como regular.

  • Estado funcional

Os indicadores de estado funcional medem as limitações no desempenho das funções corporais e na realização de atividades cotidianas típicas.

Proporção de idosos com alguma deficiência

Definição: Percentual de idosos de 60 anos ou mais que declaram ter alguma das seguintes deficiências: deficiência mental permanente; deficiência física (tetraplegia, paraplegia ou hemiplegia permanente); deficiência física (falta de membro ou de parte dele: perna, braço, mão, pé ou dedo polegar); deficiência visual (incapaz, com alguma ou grande dificuldade permanente de enxergar); deficiência auditiva (incapaz, com alguma ou grande dificuldade permanente de ouvir); deficiência motora (incapaz, com alguma ou grande dificuldade permanente de caminhar ou subir escadas).

Método: (Número de idosos que declaram ter alguma deficiência / População idosa) x 100

Fontes: Censo Demográfico 2000

Exemplo: As deficiências podem ter impacto na participação do idoso na sociedade, bem como serem fatores de risco para problemas de saúde mental, física e social. Abaixo mostramos a proporção da população idosa que declara ter algum tipo de deficiência, segundo região.

Tabela
Distribuição percentual dos idosos que declararam ter algum tipo de deficiência
Unidades da Federação da região sudeste, 2000 e 2010


Fonte: Censo

No 2000 cerca de 50% da população idosa apresentou algum deficiência, em todas a unidades da federação houve um aumento desse percentual, destacasse RJ e SP com os maiores aumentos, isso pose der explicado pelo aumento da população com ais de 75 anos da qual há maior prevalência de incapacidades físicas.

  • Morbidade

A morbidade refere-se ao conjunto dos indivíduos que adquirem doenças (ou determinadas doenças) num dado intervalo de tempo em uma determinada população. A morbidade mostra o comportamento das doenças e dos agravos à saúde.

Os indicadores de morbidade trazem a idéia da intensidade com que acontece uma doença numa população, medem a freqüência de ocorrência de casos novos e o predomínio dos casos existentes.

Taxa de internação de idosos por insuficiência cardíaca

Definição: Número de internações hospitalares financiadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) por insuficiência cardíaca (CID-10 I50) na população idosa de 60 anos ou mais, por 10 mil habitantes na mesma faixa etária e sexo, residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado.

Interpretação: Estima o risco de internação por insuficiência cardíaca na população idosa de 60 anos ou mais e dimensiona a sua magnitude como problema de saúde pública.

Método: (Número total de internações hospitalares de idosos pagas pelo SUS, por insuficiência cardíaca / População total de idosos) x 10000

Fontes: SIH/SUS (Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde)

Exemplo: A insuficiência cardíaca é uma das maiores causas de internação de idosos, abaixo temos sua distribuição segundo sexo e a comparação entre os valores encontrados em diferentes agregações geográficas (município, estado, região e país).

Tabela
Taxa de internação de idosos por insuficiência cardíaca, segundo sexo
Município do Rio de Janeiro, 2009 e 2010


Fonte: SIH/SUS

Houve uma diminuição das taxas, principalmente no sexo feminino. Segundo o gráfico abaixo, podemos verificar que a taxa de internação do município está bem abaixo das registradas nas outras áreas.

Gráfico
Taxa de internação de idosos por insuficiência cardíaca.Comparação
entre o Município do Rio de Janeiro, o Estado do Rio de Janeiro,
a Região Sudeste e o Brasil, 2009 e 2010

  • Mortalidade

A mortalidade refere-se ao conjunto dos indivíduos que morreram num dado intervalo do tempo. Representa o risco ou probabilidade que qualquer pessoa na população poder vir a morrer. Diversas vezes temos que medir a ocorrência de doenças numa população através da contagem dos óbitos e para estudá-las corretamente estabelecemos uma relação com a população que está envolvida (Shibuya, 2006). Os indicadores de mortalidade são calculados pela taxas ou coeficientes de mortalidade. Representam o “peso” que os óbitos apresentam numa certa população.

Mortalidade proporcional por grupos de causas

Definição: Distribuição percentual de óbitos por grupos de causas definidas, na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado.

Interpretação: Mede a participação relativa dos principais grupos de causas de morte no total de óbitos com causa definida.

De modo geral, é influenciado pela participação de fatores que contribuem para aumentar ou diminuir determinadas causas, alterando a distribuição proporcional das demais: condições socioeconômicas, perfil demográfico, infra-estrutura de serviços públicos, acesso e qualidade dos serviços de saúde.   

Método: (Número de óbitos de residentes por grupo de causas definidas/ Número total de óbitos de residentes) *100

Fontes: SIM (Sistema de Informação sobre Mortalidade)

As principais causas de óbito de idosos são, em todos os anos, foram, respectivamente, doenças do aparelho circulatório, Neoplasias (câncer) e doenças do aparelho respiratório, essas três causas juntos corresponderam a mais de 60% das mortes de idosos no estado do Rio de Janeiro e apresentam as maiores taxas, ou seja, maior risco de morte por essas doenças.

 

Indicadores de serviços de saúde

Estes indicadores são utilizados para avaliar o sistema de saúde através da mensuração da parte física dos estabelecimentos de saúde (como a quantidade de funcionários e o número de leitos disponíveis), analisando o esforço operacional de alocação de recursos humanos e financeiros para a produção de resultados que sejam satisfatórios para a obtenção de melhorias efetivas de bem-estar e saúde para a população.

  • Efetividade

Os indicadores de efetividade medem o grau em que a assistência, os serviços e as ações de saúde atingem os resultados esperados. Compreende a análise das causas consideradas evitáveis de mortalidade e de internação.

Taxa de internação de idosos por causas evitáveis

Definição: Número de internações de idosos por causas evitáveis, causas definidas como condições sensíveis à atenção primária, na população idosa de 60 a 74 anos, por 10 mil habitantes de mesma faixa etária, residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado.O indicador de condições sensíveis à atenção primária, desenvolvido por Billings e colaboradores, representa um conjunto de problemas de saúde para os quais a efetiva ação da atenção primária diminuiria o risco de internações, tais como a prevenção de doenças, o diagnóstico e o tratamento precoce de patologias agudas e o controle e acompanhamento de patologias crônicas. A lista de causas sensíveis utilizada foi a estabelecida pelo Ministério da Saúde através da Portaria 221 da SAS/MS, 17/04/2008.

Interpretação: Estima o risco de internações por causas evitáveis na população idosa de 60 a 74 anos e dimensiona a sua magnitude como problema de saúde pública. É um indicador de avaliação da efetividade. É um indicador indireto de avaliação da eficiência da atenção primária em saúde.

Método: (Número total de internações hospitalares de idosos de 60 a 74 anos pagas pelo SUS, por causas evitáveis / População idosa de 60 a 74 anos) x 10000

Limitações:

  1. O uso das CSAP como instrumento de monitoramento da atenção básica requer que os dados sobre altas hospitalares sejam completos, que os diagnósticos registrados sejam confiáveis e que as condições selecionadas como sensíveis à atenção ambulatorial sejam válidas.
  2. Não são consideradas as internações em unidades hospitalares sem vínculo com o SUS.
  3. O indicador é influenciado pela contagem cumulativa de internações de um mesmo paciente, pela mesma causa, durante o período analisado.
  4. O sistema de informação utilizado pode não detectar inconsistências na classificação da causa de morbidade informada.

Fontes: SIH/SUS (Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde)

Exemplo: A partir a análise de algumas causas de internações podemos avaliar se a atenção primária está atuando de forma efetiva. Algumas causas de internação são consideradas evitáveis por meio de uma adequada e oportuna intervenção da atenção primária, ou seja, altas taxas de internações por essas causas (indicador conhecido como internações por condições sensíveis a atenção primária) são resultados de um desempenho ruim da atenção primária em saúde.

A taxa de internação por condições sensíveis a atenção primária vem demonstrando redução nos últimos anos e, quando comparada a região sudeste e ao Brasil, apresentar taxas mais baixas. No entanto ainda são taxas elevadas quando comparadas a outras país, em especial, país europeus.

  • Acesso aos serviços de saúde

São indicadores sobre a utilização dos meios oferecidos pelo setor público para atender às necessidades de saúde da população e Sobre a capacidade dos indivíduos de obter os serviços necessários no lugar e momento certo.

Cobertura da população idosa cadastrada na Estratégia de Saúde da Família (ESF)

Definição: Percentual de idosos de 60 anos ou mais cadastrado na ESF em determinado espaço geográfico, no ano considerado.
Interpretação: Estima o percentual de idosos de 60 anos ou mais coberto pela ESF. O cadastramento das famílias e pessoas das áreas de abrangência do PACS/ESF é realizado no início dos trabalhos das equipes e atualizado anualmente ou sempre que necessário.

Método: (Número de idosos cadastrados na ESF / População total de idosos) x 100

Limitações: O indicador pode conter duplicidade de cadastro, assim como sub-registros.

Fontes: SIAB (Sistema de Informação da Atenção Básica)

Exemplo: A cobertura de idosos pela estratégia de saúde da família é um indicador importante para gestão em saúde, pois informa sobre quantos idosos tem acesso aos serviços básico de saúde e quando é preciso aumento de cobertura para atingir a totalidade de idosos.

A cobertura da estratégia saúde da família no Rio de Janeiro ainda é considerada baixa, no entanto observa-se aumento nos últimos anos.

  • Adequação

Medem o grau com que os cuidados com a saúde prestados aos indivíduos estão baseados no conhecimento técnico-científico existente.

Exemplo: A adequação do cuidado prestado pelos hospitais ao idoso que sofrerem fratira de fêmur pode ser medido pelo número de dias que o idosos ficou internado, Estudos mostram que quanto mais dias o idosos ficar internado para realização de cirurgia aumenta significativamente a chance de ter sequelas e até mesmo ir a óbito.

Tempo médio de permanência hospitalar de pacientes idosos com fratura no quadril

Definição: Número médio de dias de internação de idosos de 60 anos ou mais por fratura no quadril (CID-10 S72.0; S72.1; S72.2)

Interpretação: Estima o tempo médio de permanência hospitalar de pacientes idosos com fratura no quadril. Um tempo de permanência muito longo aponta para uma inadequação do cuidado hospitalar. O tempo de permanência estimado é de 12 a 18 dias*. No Canadá, 7% dos idosos internados com fratura de quadril morrem até 30 dias após admissão.

Método: Número de dias de internação por fratura no quadril de idosos com 60 anos ou mais / (Total de internações por fratura de colo do fêmur de idosos com 60 anos ou mais)

Limitações:

  1. Pacientes com quadros mais graves da doença e presença de comorbidades podem permanecer hospitalizados por mais tempo. Entretanto, essa informação não está disponível ou apresenta baixa qualidade no SIH.
  2. O indicador não leva em consideração a natureza jurídica (público ou privado) das instituições hospitalares.

Fontes: SIH/SUS (Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde)

O estado do Rio de Janeiro apresenta média de dias muito acima das medias da região sudeste e de todo o Brasil. Entretanto ainda está na faixa considerada adequada para atendimento da fratura de fêmur segundo parâmetros internacionais.

  • Financiamento

São indicadores referentes às formas de financiamento dos serviços de saúde.

Exemplo: A partir desse indicador podemos avaliar quanto do financiamento em saúde está sendo gasto no setor público e privados. A partir dessa análise podemos estimar déficit ou excesso de financiamento em determinada área.

Participação do SUS no financiamento das pessoas que informaram internação.

Definição:    Razão entre o número idosos que reportaram utilização de atendimento financiados pelo SUS e o número total idosos que reportaram utilização de atendimentos

Interpretação:    Indica a participação do SUS no financiamento dos atendimentos utilizados

Método:  (número de idosos que reportaram utilização atendimentos financiadas pelo SUS sem participação de plano de saúde, com ou sem gasto direto) / (número total de idosos que reportaram utilização de atendimentos)

Limitações:    A partir de 2004 a PNAD ampliou sua cobertura para todo o Território Nacional, passando a agregar as informações das áreas rurais de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá.

Fonte:    PNAD

Observa-se aumento da utilização do SUS para atendimento tanto no estado do Rio de Janeiro quanto na região sudeste e todo o Brasil. Isso pode ser explicado pela expansão dos serviços de saúde pública em especial da atenção primária a saúde.

Referências Bibliográficas

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Complementar:

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